sexta-feira, 27 de maio de 2011

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PERNAMBUCO- Chegou a hora final para as maltas do Recife mais ou menos em 1912, coincidindo com o nascimento do frevo, legado da capoeira. As bandas rivais do Quarto Batalhão e da Espanha (Guarda Nacional) desfilavam no carnaval  pernambucano protegidas pela agilidade, pela valentia, pelos cacetes e pelas facas dos façanhudos capoeiras que os saracoteios desafiavam os inimigos: Cresceu, caiu, partiu, morreu! A polícia foi acabando paulatinamente com os moleques de banda de música e com seus líderes, Nicolau do Poço, João de Totó, Jovino dos Coelhos, até neutralizar o maior de todos eles, Nascimento Grande.

RIO DE JANEIRO - Foi no entanto no Rio de Janeiro, muito antes da abolição que os capoeiristas, individualmente ou em maltas, mais perturbaram e aterrorizaram a população, alcançando o status, no dizer dos cronistas da época.
Já em 1809, um ano após a chegada de D. João VI criou-se a Secretaria de Polícia e foi  organizada a Guarda Real de Polícia para a chefia da qual nomeou-se o major Nunes Vidigal, que perseguiu os candomblés, as rodas de samba e em especial as capoeiras, para quem reservava um tratamento especial, uma espécie de surra e torturas a que chamava de Ceia dos Camarões. O major Vidigal era um homem alto, gordo, do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de um sangue frio e de uma agilidade a toda prova, respeitado pelos mais terríveis capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a  navalha.
 Mas apesar das perseguições de Vidigal, Bassom e muitos outros, não se extinguiram os capoeiras e muito menos os problemas dos constantes conflitos entre eles e a polícia, sobre tudo no que tange ao uso de armas brancas.
Foi no ano de 1890, poucos meses antes da capoeira ser oficialmente posta fora da lei, na transição do Império para a República, quando Marechal Deodoro da Fonseca nomeou o Bacharel Sampaio Ferraz, que a capoeira atingiu seu momento áureo e foi a brasa no barril de pólvora, nas palavras de Waldeloir Rego.
Sampaio Ferraz, disposto a liquidar com os capoeiras de uma vez, com carta branca do generalíssimo Deodoro, prendeu entre muitos outros Juca Reis, capoeira conhecido, filho do Conde de São Salvador de Matosinho. Quintino Bocaiúva, ministro das Relações Exteriores, amigo do conde, tomou as dores do capoeirista, visto que ele havia sido preso tão somente por seus antecedentes, mas que tranqüilamente se achava nesta capital. O conflito entre Sampaio Ferraz e Quintino Bocaiúva abalou o novo regime e quase derruba seu primeiro gabinete, pois o ministro ameaçava demitir-se e a opinião pública estava atenta ao desfecho do caso. Após muito parlatório nas sessões do Conselho de Ministros de 12 a 19 de abril de 1890, envolvendo Rui Barbosa, Campos Sales, Cesário Alvim, Benjamin Constant e o próprio Deodoro, prevaleceu o ponto de vista de Sampaio Ferraz - Juca Reis foi cumprir pena em Fernando de Noronha e em seguida foi deportado, e o ministro Bocaiúva foi dissuadido de sua renúncia.
Este caso, apesar de repercussão na imprensa e na sociedade da época, era brincadeira de criança em comparação, por exemplo, com a fanática Guarda Negra, que, explorando os sentimentos de gratidão dos escravos libertos pela princesa Isabel, e sob a inspiração de José do Patrocínio e com verbas secretas da polícia, cuidava de salvar a Monarquia e lutar contra os republicanos.
Os capoeiras da Guarda Negra fizeram misérias, não houve uma reunião fechada ou um comício público dos republicanos que não fossem dissolvidos. O grande acontecimento promovido por eles foi a 30 de dezembro de 1888, quando o comício republicano à Sociedade Francesa de Ginástica... Marechal Silva Jardim começou a falar e o local se transformou numa praça de guerra, com grande número de mortos e feridos.

BAHIA - Na Bahia a coisa aconteceu de forma bastante diferente da trajetória carioca. Houve perseguições, e é verdade como conta Waldeloir Rego, que em 1880 o Cais Dourado se tornou famosíssimo pelo excesso de desordens e crimes que ali praticavam, sobre tudo por ser zona de meretrício.
Mas a configuração bandos/maltas usados inclusive para fins políticos, que tanto caracterizou o Rio, não se deu.
Em Salvador a fase mais característica ocorreu por volta de 1920, com o famoso chefe de polícia Pedrito de Azevedo Gordilho, que perseguiu não só as rodas de capoeira, mas também o samba e o candomblé.
A polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado, contava mestre Bimba. Imagine só que um dos castigos que davam a capoeiristas que fossem presos brigando era amarrar um dos punhos num rabo de cavalo e outro em cavalo paralelo. Os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o quartel.
Esta situação de perseguição ao capoeirista, na Bahia vai durar até a década de 1930, quando começa o ensino nas academias.
Embora totalmente reprimida e perseguida, a capoeira, continuou a fazer o seu percurso.
Às escondidas, os capoeiristas, nos quintais, nas praias, nos terreiros e nos arredores da cidade, exercitavam a sua prática e transmitiam os seus ensinamentos às gerações futuras.
Em conseqüência de todo um sistema repressivo montado para exterminar a capoeira, os capoeiristas sentem cada vez mais a necessidade de aperfeiçoá-la para safarem-se da perseguição da polícia. Os seus golpes tornam-se mais perigosos e sutis, e novos golpes são criados e incorporados a cada momento.
Uma vez no poder, Getúlio Vargas tem a missão de reconstruir o país, exercendo assim um total controle sobre a sociedade. Para fazer cumprir o seu programa de governo, Getúlio Vargas sente a necessidade de receber o apoio da população, até então descontente e revoltada com a situação do país, onde quem paga o preço mais caro era o povo.
Para amenizar os ânimos da massa  e receber dela o seu apoio, Getúlio procura de imediato atender algumas reivindicações dos trabalhadores, porém nunca concedendo-lhes os seus verdadeiros direitos e sim apenas o básico, para que a massa sem transtornos servisse ao novo poder.
Em 1934, Getúlio Vargas libera uma série de manifestações populares e dentre estas a capoeira. Contudo, o ato do grande estadista nada teve de bonzinho : foi antes de tudo um ato político, uma forma estudada de liberar as válvulas de escape da população marginalizada, angariando dela a sua simpatia, ao mesmo tempo que era uma forma de exercer um controle sobre a s manifestações  e sobre os atos de seus praticantes, eliminando, assim, a inconveniência da desordem e determinando regras e normas para a sua prática.
No caso da capoeira, esta poderia ser praticada livremente, porém desvinculada de qualquer ato considerado marginal ou agitador. Poderia ser apresentada como folguedo nos festejos populares e como espetáculo folclórico em recintos estipulados. Como luta, deveria ser exercida apenas como defesa pessoal e esporte, praticada em locais fechados e por pessoas consideradas idôneas e de bem, assim, transformar-se em esporte nacional.

By. Sérginho

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